terça-feira, 2 de outubro de 2012


Dia 2.
Um encontro por acaso. 

Te vi na livraria hoje. Não ia lá há meses, tentei pausar as leituras na tentativa de pausar um pouco a minha mente. Bom, não deu muito certo. Então, resolvi hoje, por acaso, comprar O Diário de Anne Frank e conferir se era tão bom quanto você propagava. Me perguntei algumas vezes se realmente deveria sair de casa pra ir em um lugar que, como toda a certeza do mundo, traria de volta todas as lembranças de você. Aí pensei em o que você me diria se estivesse aqui. Você não sabe, mas ainda move meus dias e pensamentos. Mentalmente, em cada atitude que tomo, peço sua aprovação. Besteira, eu sei. Mas é que você se tornou uma parte de mim e eu não consigo mais me desfazer do meu você que habita no meu eu. Confuso, eu sei.
Você estava linda. Sério. De todas as vezes que te achei linda, essa foi a que te achei mais linda. Linda, linda, linda! Pareço um adolescente encontrando o primeiro amor, mas é que você me causa essas coisas idiotas. Você estava com o cabelo meio preso, mas meio solto também. Como se tivesse saído pra rua sem ao menos ajeitá-lo. Aliás, tenho certeza de que foi exatamente isso que fez. Pegou a mochila, colocou suas chaves e celular e saiu, sem se preocupar se algum conhecido te veria atravessando o semáforo fechado. Sua rebeldia nunca teve hora mesmo... Usava uma camiseta dos Ramones, que foi presente meu. Juro que meu coração deu uma leve acelerada, porque, na minha cabeça, se você ainda usa a blusa é porque gosta de se lembrar de mim. Meu sorrisinho de canto foi inevitável. A moça que folheava um livro ao meu lado me olhou meio torto depois. Moça intrometida essa, não é mesmo? Mas, pouco importa. Você também sempre foi assim. A diferença é que em você era bonitinho. Enfim. Você usava também sua calça jeans surrada e o all star sujo, porque você nunca foi de ficar lavando toda semana. Linda. Porque você não mudou nada, estava exatamente do jeito que sempre foi.
Piscou o olho esquerdo duas vezes ao ler a sinopse de um livro qualquer na prateleira. Era um tic nervoso, mas também essa era sua maneira de desaprovar algo ou alguém. Vi isso pela primeira vez quando comprei uma camisa laranja e você ficou com vergonha de dizer que era feia. Você só piscou o olho esquerdo duas vezes e disse que a azul era mais bonita. Naquele momento eu tive certeza que era a minha garota ali, a uns 10 metros de mim. 10 metros à frente, como sempre. Você sempre se manteve adiante de mim, tanto na rua quanto na vida. Dois anos mais nova e terminou a graduação primeiro. Nunca me conformarei com isso. Senti seu perfume de longe, mas acho que isso já é normal. Sinto seu perfume até quando não estou perto. É como se ele já fizesse parte de mim também, assim como tudo o que é seu e um dia me pertenceu.
Você me viu. Sim, eu tenho certeza. Depois de escolher o livro que compraria, você pagou, se virou e me viu sentado e te apreciando. Não fiz questão de virar, desviar o olhar ou fingir que não fiquei te fitando por meia hora. Não. Continuei olhando. E você me viu. Você foi a covarde dessa vez. Me evitou, fingiu não me conhecer, me ignorou. Fiquei com vontade de levantar e ir atrás de você, perguntando: “Ei, quem te deu essa camisa dos Ramones?” “Quem te deu aquele CD de Foo Fighters que você deixou sua cadela arranhar?” “Ei... Volta aqui! Quem te deu um coração quase sem marcas que você fez questão de se desfazer como se não se importasse mais?”. Não fiz nada. Nem um oi-tudo-bem saiu. Nada. Paralisado estava te admirando, paralisado permaneci quando você saiu da livraria. Me senti um idiota pela segunda vez. De novo, não tive pernas pra correr. Idiota porque você esteve tão minha e eu não soube te guardar, e agora esteve tão perto e não soube te segurar. Me sinto um inútil idiota que viu a mulher de sua vida vida virar as costas duas vezes e, mesmo querendo mais do que qualquer coisa no mundo, não soube implorar em nenhuma delas. 

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