Dia 4.
Um bilhete quase esquecido.
Andei revirando umas coisas velhas em meu
armário. Poucas roupas e muitos
guardados. Achei umas cartas, uns cartões de dia dos namorados, uns números
de telefone e um de seus frascos vazios de perfume. Meu objetivo era arrumar minha
bagunça, aproveitei até pra (re)ouvir uns CDs de Nando Reis, mas acabei
reorganizando as lembranças de minha mente e rodando-as como se faz com aqueles
filmes antigos. Reli tudo, conferi a utilidade dos números de
telefone e procurei um restinho de perfume no frasco. Achei um pouco de você.
As cartas amassadas e amontoadas numa caixa de
sapato velha eram quase todas de minha irmã. Depois que ela foi estudar fora, acabamos por nos comunicar mais assim do que por telefone, porque nossos horários nunca batiam. Uma outra era de minha mãe, uma de meu amigo de infância que foi morar em Londres e uma sua. É, tinha uma sua. Você que sempre jogou na minha cara que carta era coisa de gente velha e desocupada. Você sempre tão chata, nunca compreendeu o fato de eu não querer abandonar o cheiro de papel novo e a magia da caneta deslizando e transformando
meus sentimentos em escritos. Nunca entendeu que escrever pra alguém, no meu caso, é a mesma coisa
de estar conversando frete-a-frente. Cara-a-cara.
Sua carta era uma das coisas mais especiais que
eu já guardei na minha vida. Sempre guardei a campainha da minha primeira
bicicleta, meu primeiro livro, uma folha da primeira árvore que subi e agora
também suas letras em um papel velho. Um pedido de desculpas.
Me atrevo a dizer que esse é um patrimônio da humanidade, porque você praticar
o ato de pedir desculpas é a coisa mais rara que eu já presenciei. Não sei nem
se aquilo pode ser considerado uma carta, era pequeno, poucas linhas, foi feito atrás de um anúncio de supermercado e pendurado na geladeira numa
tarde solitária de domingo durante o meu banho demorado. A gente quase
acabou com tudo naquele dia. Apesar de pequeno e desleixado, me fez chorar feito criança perdida:
“Sou
idiota. Burra, estúpida, infantil e não te mereço. Não mereço seus olhos me
fitando durante a madrugada nem os seus sonhos que protagonizei. Você é tão
incrível que às vezes me pego perguntando a Deus se ele não teria cometido um erro ao te
colocar no meu caminho. Me desculpa. Desculpa? Eu te amo. É. Te amo. Não ria de mim, por favor. Não sei fazer essas coisas. Amo mais do
que brigadeiro. Acredita agora? Você é o exatamente homem que eu sempre quis e eu gostaria de ser sua mulher também. Aceita? Não me largue por aí não. E vê não me deixa
cometer a burrice de quase te expulsar de minha vida de novo. Não quero parecer egoísta, mas, me segure!”
Foi
a primeira vez que você disse que me amava. Foi a primeira vez que acreditei
que alguém poderia me amar mesmo com esse jeito tão desajeitado. Te dizer que sempre guardo as coisas que considero especial, é só um pretexto pra dizer que pra sempre te guardarei.
Gosto de Frederico, me apresenta ele? kkkkk . Cada dia mais curiosa para saber sobre Frederico e seus anseios.
ResponderExcluirMuito bom, de verdade
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