sábado, 6 de outubro de 2012


Dia 4.
Um bilhete quase esquecido.

Andei revirando umas coisas velhas em meu armário. Poucas roupas e muitos guardados. Achei umas cartas, uns cartões de dia dos namorados, uns números de telefone e um de seus frascos vazios de perfume. Meu objetivo era arrumar minha bagunça, aproveitei até pra (re)ouvir uns CDs de Nando Reis, mas acabei reorganizando as lembranças de minha mente e rodando-as como se faz com aqueles filmes antigos. Reli tudo, conferi a utilidade dos números de telefone e procurei um restinho de perfume no frasco. Achei um pouco de você.
As cartas amassadas e amontoadas numa caixa de sapato velha eram quase todas de minha irmã. Depois que ela foi estudar fora, acabamos por nos comunicar mais assim do que por telefone, porque nossos horários nunca batiam. Uma outra era de minha mãe, uma de meu amigo de infância que foi morar em Londres e uma sua. É, tinha uma sua. Você que sempre jogou na minha cara que carta era coisa de gente velha e desocupada. Você sempre tão chata, nunca compreendeu o fato de eu não querer abandonar o cheiro de papel novo e a magia da caneta deslizando e transformando meus sentimentos em escritos. Nunca entendeu que escrever pra alguém, no meu caso, é a mesma coisa de estar conversando frete-a-frente. Cara-a-cara. 
Sua carta era uma das coisas mais especiais que eu já guardei na minha vida. Sempre guardei a campainha da minha primeira bicicleta, meu primeiro livro, uma folha da primeira árvore que subi e agora também suas letras em um papel velho. Um pedido de desculpas. Me atrevo a dizer que esse é um patrimônio da humanidade, porque você praticar o ato de pedir desculpas é a coisa mais rara que eu já presenciei. Não sei nem se aquilo pode ser considerado uma carta, era pequeno, poucas linhas, foi feito atrás de um anúncio de supermercado e pendurado na geladeira numa tarde solitária de domingo durante o meu banho demorado. A gente quase acabou com tudo naquele dia. Apesar de pequeno e desleixado, me fez chorar feito criança perdida:
“Sou idiota. Burra, estúpida, infantil e não te mereço. Não mereço seus olhos me fitando durante a madrugada nem os seus sonhos que protagonizei. Você é tão incrível que às vezes me pego perguntando a Deus  se ele não teria cometido um erro ao te colocar no meu caminho. Me desculpa. Desculpa? Eu te amo. É. Te amo. Não ria de mim, por favor. Não sei fazer essas coisas. Amo mais do que brigadeiro. Acredita agora? Você é o exatamente homem que eu sempre quis e eu gostaria de ser sua mulher também. Aceita? Não me largue por aí não. E vê não me deixa cometer a burrice de quase te expulsar de minha vida de novo. Não quero parecer egoísta, mas, me segure!”
Foi a primeira vez que você disse que me amava. Foi a primeira vez que acreditei que alguém poderia me amar mesmo com esse jeito tão desajeitado. Te dizer que sempre guardo as coisas que considero especial, é só um pretexto pra dizer que pra sempre te guardarei.

2 comentários:

  1. Gosto de Frederico, me apresenta ele? kkkkk . Cada dia mais curiosa para saber sobre Frederico e seus anseios.

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