terça-feira, 20 de novembro de 2012


Dia 12.
Existe vida sem você, só não aprendi a viver.

Ainda acordo cedo todos os dias. Minha barba cresceu, meu cabelo também. Continuo com problemas pra dormir com barulhos de trovões. Abriu uma padaria nova na esquina, fui lá algumas vezes atrás de uns sonhos, mas só achei daqueles recheados. Inauguraram um restaurante grego a cinco quadras daqui, a crítica no jornal é positiva. Parei de tomar coca-cola, diminuí o açúcar e sal e aprendi a comer salada. Bem, isso foi há umas três semanas. No domingo, voltei a tomar coca-cola, comprei alguns chocolates e joguei tudo que tinha de folha da geladeira no lixo. Conheci algumas pessoas novas. Contrataram uns estagiários na empresa e a mulher do cafezinho mudou. Saí com algumas mulheres. Loira, morena, ruiva, grande, pequena, fã de Beatles e de Luan Santana. Trouxe todas aqui. Experimentei comida diferente, viajei pelas cidades da região que ainda não conhecia. Rodei pela cidade inteira de bicicleta, descobri uma livraria nova em um bairro que nem sabia que existia e uma lanchonete que vende a melhor torta de coco que eu já comi.
Fui ao cinema, fui ao teatro, fui à faculdade onde me formei, visitei uns velhos amigos, reli cartas, bilhetes, ouvi músicas antigas, comprei uma camisa nova, panelas e arrumei a casa. Fiz a barba, cortei o cabelo, usei um perfume diferente, fui ao cinema com a moça da lanchonete que vende torta de coco, comprei um livro novo, um CD novo, fones novos e fiz um projeto novo pro trabalho. Conversei com a moça do cafezinho, peguei seu telefone, fui com ela ao restaurante grego que abriu, comprei coca-cola, chocolate e voltei ao trabalho sorridente. Vi você passeando de mão dada com o carinha musculoso da faculdade.
Deixei a barba crescer, o cabelo crescer, a casa ficou bagunçada de novo. Nesse tempo deve ter aberto uns 50 restaurantes novos pelas esquinas do meu bairro, mas eu só caminho olhando pro chão que é pra evitar ver algo que posso me socar o estômago e arder os olhos. De vez em quando tem chamadas perdidas da moça da lanchonete, da moça da livraria e a moça do cafezinho manda recados todos os dias pela secretária do meu chefe. Não consigo responder a ninguém. 
A vida seguiu e eu tentei acompanhar. As coisas mudaram, pessoas passaram, vieram, foram, ficaram, voltaram. Conheci gente, desconheci gente e reconheci gente. Eu tento caminhar a favor da maré, tento me adaptar, tentei até virar o homem responsável que toda mulher gostaria de ter. É complicado. Você sabe. Esse negócio de ser eu é complicado. Não adianta eu tentar mudar todos os meus estúpidos hábitos porque basta ver seu sorriso do outro lado da rua que meus planos de crescer parecem ridículos demais. Parece até que eu não sei mais viver sem seu olhar de aprovação. 
Quantas mudanças eu terei que fazer até conseguir não me questionar se você vai gostar, mesmo sabendo que agora você tá pouco se lixando se minha vida corre bem ou mal? Quantos amigos eu preciso rever até perceber que você não é a única que me entende, mesmo sabendo que é? Quantas vidas preciso (re)inventar até descobrir que você não é a parte mais importante dela, mesmo claramente sendo? Quantas mulheres eu terei que trazer para minha cama até conseguir arrancar seu cheiro do meu travesseiro?

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